

Os colonizadores espanhóis impuseram o catolicismo no México no século XVI, mas as aldeias localizadas nas altas terras do sul não se submeteram totalmente a esta imposição. Místicos locais, dizendo agir em obediência a visões sobrenaturais, convenceram alguns índios a preservar os antigos conceitos religiosos dos maias, tais como o culto da terra e do sol e a prática de rituais da fertilidade. Essas crenças tradicionais fundiram-se com o dogma católico romano, resultando no catolicismo sincretista predominante hoje na região.
Depois de longos períodos de conflitos, uma paz delicada estabeleceu-se no estado de Chiapas. Os mestiços ou eurameríndios - fusão de descendentes europeus e ameríndios - foram capazes de manter uma convivência pacíficas com seus vizinhos indígenas. O governo mexicano governava à distância, permitindo que os caciques (líderes de ascendência indígena que dominam a região do Chiapas política e economicamente) detivessem o poder. Estes, por sua vez, ajudavam a manter uma confortável atmosfera política. O acordo, infelizmente, não ajudou os residentes da área. O governo tem investido pouco em auxílio aos mais pobres, e a qualidade de vida na região é uma das mais baixas de todo o México. A taxa de analfabetismo é alta e a renda per capita está bem abaixo da linha de pobreza. De fato, são os caciques que dominam com mão forte a política e a economia da região. Eles impõem taxas religiosas durante a realização de festivais e aqueles que não podem pagar são obrigados a fazer empréstimos a taxas de juros exorbitantes. Além disso, ao manter o controle sobre o poder judiciário, os caciques conseguem perseguir os evangélicos livremente, pois são acobertados pela impunidade.
A Igreja
Apesar da perseguição, os cristãos evangélicos têm divulgado o Evangelho, e as relações entre eles e os outros residentes da região têm melhorado. Em dezembro de 1999, cerca de mil pessoas participaram de uma marcha simbólica chamada de "Peregrinação para a Renovação de Nossos Corações". Um mês depois, mais de 36 pessoas foram batizadas na praia de Puerto Madero.
A Perseguição
O protestantismo foi introduzido na região após a II Guerra Mundial. A despeito da intolerância religiosa, os missionários e os evangélicos locais foram capazes de concluir uma tradução do Novo Testamento para o dialeto local e comissionar evangelistas para conduzir um programa de implantação de igrejas. Esses cristãos desenvolveram uma nova forma de vida: eles se negam a comprar velas ou a consumir álcool, quebrando portanto a atividade econômica dos caciques, que respondem com ataques violentos. Igrejas e casas já foram destruídas por bandos, e comunidades inteiras já foram expulsas de seus lares. Além disso, cruzadas evangelísticas são hostilizadas, evangélicos são assassinados e alguns grupos já foram até massacrados.
A história de Pascuala é um testemunho assombroso de sobrevivência e vitória. Ela tornou-se cristã há mais de vinte anos por meio do testemunho de um curandeiro convertido ao cristianismo, entregando-se completamente ao serviço do Senhor. "Eu experimentei uma grande mudança em minha vida. Eu sentia que tudo ao meu redor era novo e passei a ver as coisas de forma diferente. Parei de procurar o J’ilol (curandeiro) porque descobri que Jesus podia curar nossas doenças."
Sempre que podia, Pascuala contava aos outros sobre o poder e o amor de Jesus Cristo. Até que sua tia Maria, uma das feiticeiras da tribo, alertou-a para que tivesse cuidado, pois havia pessoas dizendo que iam queimar sua casa e matá-la.
Pascuala ainda recorda: "Certa noite, eu estava em casa com um sobrinho e três sobrinhas. Nós havíamos cantado um hino e orado antes de nos deitar para dormir em paz. Por volta da meia-noite, fui despertada pelo latido de um cachorro e percebi que a casa estava em chamas. Eu agarrei um cobertor e corri para fora de casa para ver o que estava acontecendo. Percebi alguém me apontar uma arma e disparar. Eu consegui gritar para que todos saíssem da casa. Corri na escuridão da noite e até me arrastei nos momentos em que não tinha mais forças. Após algumas horas, cheguei à casa de um amigo onde me deram um agasalho e água para beber. O sangue escorria pelos meus ferimentos. Comecei a caminhar novamente e cheguei a San Cristóbal de las Casas por volta das oito horas da manhã. Lá, fui levada primeiro ao Ministério Público para preencher um relatório legal e depois ao hospital."
Pascuala apresentava vinte e um ferimentos à bala. Pior que isso, porém, foi saber que as autoridades constataram que somente uma de suas sobrinhas havia sobrevivido ao ataque. Apesar da perda e da dor física que Pascuala ainda sente, ela cita a letra de um hino para declarar sua fé: "Eu decidi seguir a Jesus... não há retorno!"
O Futuro
A liderança atual da Igreja Católica em Chiapas está passando por mudanças. Em parte, isto é uma conseqüência do papel que ela exerce ao apoiar a liberdade religiosa na região. Os futuros líderes católicos poderão não ser tão prestativos. Apesar disso, muitos evangélicos estão otimistas em relação ao futuro da liberdade religiosa. A comunidade internacional têm estado mais atenta à situação do estado de Chiapas e, conseqüentemente, o México tem sido pressionado a garantir os direitos da população local.
Estatísticas
Capital do estado de Chiapas : Tuxtla Gutiérrez
População : 3,5 milhões (23% Urbana)
Área : 74.211 km2
Localização : Região montanhosa no extremo sul do México
Religião : Cristianismo (94,6%); Sem religião (3,2%)
População Cristã : Os cristãos evangélicos somam 30 a 40% da população local (um número entre 1 e 1,3 milhões de pessoas), enquanto esta taxa varia de 3 a 8% no restante do México
Perseguição : Contínua e estável
Restrições : A liberdade de evangelização é limitada e há hostilidades por parte dos líderes locais
No século XXI : A igreja deverá alcançar de forma amorosa aqueles a sua volta, esforçando-se com determinação para evangelizar seus perseguidores
O México ocupa a posição de nº 49 na Classificação de Países por Perseguição.
Na próxima semana : A Igreja Perseguida no Nepal
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