O artigo 24 da Constituição mexicana garante que "cada pessoa é livre para professar a crença religiosa que mais lhe agradar". Entretanto, os cristãos evangélicos enfrentam perseguições incessantes no estado mexicano de Chiapas, muitas vezes sob olhares complacentes das autoridades eleitas. Eles são vítimas de uma mistura corrupta de religião e política.Os colonizadores espanhóis impuseram o catolicismo no México no século XVI, mas as aldeias localizadas nas altas terras do sul não se submeteram totalmente a esta imposição. Místicos locais, dizendo agir em obediência a visões sobrenaturais, convenceram alguns índios a preservar os antigos conceitos religiosos dos maias, tais como o culto da terra e do sol e a prática de rituais da fertilidade. Essas crenças tradicionais fundiram-se com o dogma católico romano, resultando no catolicismo sincretista predominante hoje na região.
Depois de longos períodos de conflitos, uma paz delicada estabeleceu-se no estado de Chiapas. Os mestiços ou eurameríndios - fusão de descendentes europeus e ameríndios - foram capazes de manter uma convivência pacíficas com seus vizinhos indígenas. O governo mexicano governava à distância, permitindo que os caciques (líderes de ascendência indígena que dominam a região do Chiapas política e economicamente) detivessem o poder. Estes, por sua vez, ajudavam a manter uma confortável atmosfera política. O acordo, infelizmente, não ajudou os residentes da área. O governo tem investido pouco em auxílio aos mais pobres, e a qualidade de vida na região é uma das mais baixas de todo o México. A taxa de analfabetismo é alta e a renda per capita está bem abaixo da linha de pobreza. De fato, são os caciques que dominam com mão forte a política e a economia da região. Eles impõem taxas religiosas durante a realização de festivais e aqueles que não podem pagar são obrigados a fazer empréstimos a taxas de juros exorbitantes. Além disso, ao manter o controle sobre o poder judiciário, os caciques conseguem perseguir os evangélicos livremente, pois são acobertados pela impunidade.
A Igreja
Apesar da perseguição, os cristãos evangélicos têm divulgado o Evangelho, e as relações entre eles e os outros residentes da região têm melhorado. Em dezembro de 1999, cerca de mil pessoas participaram de uma marcha simbólica chamada de "Peregrinação para a Renovação de Nossos Corações". Um mês depois, mais de 36 pessoas foram batizadas na praia de Puerto Madero.
A Perseguição
O protestantismo foi introduzido na região após a II Guerra Mundial. A despeito da intolerância religiosa, os missionários e os evangélicos locais foram capazes de concluir uma tradução do Novo Testamento para o dialeto local e comissionar evangelistas para conduzir um programa de implantação de igrejas. Esses cristãos desenvolveram uma nova forma de vida: eles se negam a comprar velas ou a consumir álcool, quebrando portanto a atividade econômica dos caciques, que respondem com ataques violentos. Igrejas e casas já foram destruídas por bandos, e comunidades inteiras já foram expulsas de seus lares. Além disso, cruzadas evangelísticas são hostilizadas, evangélicos são assassinados e alguns grupos já foram até massacrados.
A história de Pascuala é um testemunho assombroso de sobrevivência e vitória. Ela tornou-se cristã há mais de vinte anos por meio do testemunho de um curandeiro convertido ao cristianismo, entregando-se completamente ao serviço do Senhor. "Eu experimentei uma grande mudança em minha vida. Eu sentia que tudo ao meu redor era novo e passei a ver as coisas de forma diferente. Parei de procurar o J’ilol (curandeiro) porque descobri que Jesus podia curar nossas doenças."
Sempre que podia, Pascuala contava aos outros sobre o poder e o amor de Jesus Cristo. Até que sua tia Maria, uma das feiticeiras da tribo, alertou-a para que tivesse cuidado, pois havia pessoas dizendo que iam queimar sua casa e matá-la.
Pascuala ainda recorda: "Certa noite, eu estava em casa com um sobrinho e três sobrinhas. Nós havíamos cantado um hino e orado antes de nos deitar para dormir em paz. Por volta da meia-noite, fui despertada pelo latido de um cachorro e percebi que a casa estava em chamas. Eu agarrei um cobertor e corri para fora de casa para ver o que estava acontecendo. Percebi alguém me apontar uma arma e disparar. Eu consegui gritar para que todos saíssem da casa. Corri na escuridão da noite e até me arrastei nos momentos em que não tinha mais forças. Após algumas horas, cheguei à casa de um amigo onde me deram um agasalho e água para beber. O sangue escorria pelos meus ferimentos. Comecei a caminhar novamente e cheguei a San Cristóbal de las Casas por volta das oito horas da manhã. Lá, fui levada primeiro ao Ministério Público para preencher um relatório legal e depois ao hospital."
Pascuala apresentava vinte e um ferimentos à bala. Pior que isso, porém, foi saber que as autoridades constataram que somente uma de suas sobrinhas havia sobrevivido ao ataque. Apesar da perda e da dor física que Pascuala ainda sente, ela cita a letra de um hino para declarar sua fé: "Eu decidi seguir a Jesus... não há retorno!"
O Futuro
A liderança atual da Igreja Católica em Chiapas está passando por mudanças. Em parte, isto é uma conseqüência do papel que ela exerce ao apoiar a liberdade religiosa na região. Os futuros líderes católicos poderão não ser tão prestativos. Apesar disso, muitos evangélicos estão otimistas em relação ao futuro da liberdade religiosa. A comunidade internacional têm estado mais atenta à situação do estado de Chiapas e, conseqüentemente, o México tem sido pressionado a garantir os direitos da população local.
Estatísticas
Capital do estado de Chiapas : Tuxtla Gutiérrez
População : 3,5 milhões (23% Urbana)
Área : 74.211 km2
Localização : Região montanhosa no extremo sul do México
Religião : Cristianismo (94,6%); Sem religião (3,2%)
População Cristã : Os cristãos evangélicos somam 30 a 40% da população local (um número entre 1 e 1,3 milhões de pessoas), enquanto esta taxa varia de 3 a 8% no restante do México
Perseguição : Contínua e estável
Restrições : A liberdade de evangelização é limitada e há hostilidades por parte dos líderes locais
No século XXI : A igreja deverá alcançar de forma amorosa aqueles a sua volta, esforçando-se com determinação para evangelizar seus perseguidores
O México ocupa a posição de nº 49 na Classificação de Países por Perseguição.
Na próxima semana : A Igreja Perseguida no Nepal