sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Shabat


Vamos ater-nos a um preceito que todos conhecem, alguns cumprem e sobre o qual outros tentam aprofundar-se: O Shabat.
O que faz esse dia ser tão comentado, estudado, com uma enormidade de livros que discutem suas leis ? Não deveria, afinal, ser um simples dia de descanso ?
Em geral, as sociedades utilizam a repetição de eventos da natureza para organizar-se no tempo. Os calendários têm essa função e se utilizam desses eventos. Como exemplo, o calendário gregoriano, que é baseado na posição da Terra em relação ao Sol, o muçulmano, baseado na posição do sol em relação à lua (calendário lunar), e o chinês e judaico, baseados tanto no ciclo solar como lunar. Portanto, os dias, meses e anos, não importando a cultura, baseiam-se na posição de algum astro com relação a outro no sistema solar.
O interessante é a análise da semana. Não há absolutamente nenhuma indicação física no universo de um período repetitivo de sete dias. No entanto, todas as civilizações do mundo adotam esse intervalo como divisão no seu calendário e principal referência para organização de suas tarefas.
Para explicar esse fenômeno, precisaria ultrapassar o limite da matéria. Esse intervalo existe em decorrência de fatores que acontecem em uma freqüência de sete dias, tendo um caráter espiritual. A referência aqui é, claro, ao Shabat. De fato, todas às sextas-feiras, a partir do pôr-do-sol, todo judeu é presenteado com uma ampliação de seu ser; à nossa essência é agregada uma dose extra de espiritualidade, que nos é removida ao escurecer do dia seguinte. A base bíblica para o Shabat se apóia nos sete dias da criação do universo, que correspondem aos sete dias universais que compõem a semana, e que são inexplicados em termos físicos. Segundo a Bíblia, Deus criou o universo em seis dias e descansou no sétimo. Baseando-se nisso, o judeu trabalha seis dias da semana e dedica o sétimo ao descanso. Há, porém, algumas contradições, muito provavelmente criadas pela supervalorização dos meios, e não dos fins. Se o Shabat fosse um dia que os judeus deveriam dedicar exclusivamente ao descanso, por que a Bíblia e os grandes sábios proibiram-os de andar de carro para andarem a pé, ou de subir de elevador para subirem escada ? Essa pergunta já deve ter sido feita por um grande número de judeus. A resposta é que o Shabat não é um dia que os judeus devem dedicar ao descanso. Isso o colocaria sob a simples condição de meio para que pudéssemos ganhar forças para o resto da semana. Porém, o Shabat não é um meio, mas um fim em si mesmo. É mais válido dizer que os judeus trabalham durante a semana para condecorar o Shabat. Uma outra contradição se apóia no fato do princípio da fé judaica de que o Criador é perfeito, ou seja, que não necessita de nada para cumprir sua tarefa. Então por que precisaria descansar, se Seus poderes são infinitos? Na realidade, Deus não descansou no sentido usual da palavra, mas dedicou-se a criar o Shabat. Afinal, o universo foi feito em 7, não em 6 dias.
Segundo o pensamento judaico, ao ler-se o primeiro capítulo de Gênesis, eles percebem que o projeto da criação segue uma ordem enumerada do objetivo mais simples ao mais complexo. Primeiro foram criadas a luz e a escuridão. Depois surgiram os mares, as plantas, os animais, e assim por diante. Os últimos a serem criados não foram o homem e nem a mulher, mas sim o Shabat, no sétimo dia. Seguindo esse raciocínio, os judeus percebem que tudo foi criado para o homem, mas esse também tinha sua função. Ele foi criado, entre outros, para "servir" o Shabat. O que faz o Shabat ser a última das criações? A sua própria semelhança com os atributos do seu Criador. O descanso referido é o ato da não intervenção física e direta na matéria. Enquanto Deus cessou de criar, de intervir na natureza, os judeus não a transformam. Assim, para os judeus assemelharem-se ao Criador (Deus criou o homem à sua semelhança) eles também não intervém na matéria, não mexem em eletricidade, não arrancam folhas, não acendem fogo, não colhem frutas, não deixam a água ferver e não deslocam objetos que não tenham utilidade no Shabat, por exemplo. Pois essas são ações nas quais, de alguma forma, trocam o rumo da matéria. Se os judeus não a tivessem interferido, ela continuaria do jeito que estava antes.
Concluindo, o Shabat é um acontecimento central na vida dos judeus e tem papel fundamental para quem busca o sentido de sua existência. É um dia que deve ser aguardado com ansiedade durante a semana, pois está repleto de verdade e alegria que, via de regra, andam juntas. Pensam os judeus que o ritmo imposto pela sociedade não os dá tempo para parar e pensar o que realmente devem fazer em suas vidas e onde investir seu tempo. Para isso tem o Shabat, um momento para se enxergarem de um ângulo externo, como um torcedor que assiste o seu time. Assim, podem ver muita coisa que a correria do dia-a-dia os obscurece, e chegam mais perto da verdade e da alegria que são prometidas pelo Shabat. Então se apartam do físico para mergulharem no espiritual. Para isso, buscam um ambiente tranqüilo que é desejado para todos através da famosa saudação "Shabat Shalom"?
Rony Dayan
Bibliografia:
Kaplan, Arieh, "Shabat, dia de eternidade"
Revisão: Rabino Tawil
Adaptado por : Flávio Afonso Pedro
Horário das velas :
Acendimento : Sexta (07 de Setembro - 17:37)
Apagamento : Sábado (08 de Setembro - 18:31)

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